Bom, como boa parte do Brasil já sabe, o Orkut será desativado no próximo dia 30 de setembro. A rede social criada pelo Google foi a primeira a ter grande popularidade por aqui. Chegamos a ter 40 milhões de usuários, o que correspondeu a mais de 70% dos usuários de internet no país – ou a maior audiência desta plataforma do mundo. E somos até hoje (com a Índia em segundo lugar) o país com mais perfis no Orkut, com cerca de seis milhões de adeptos.
Ainda que esse número não possa ser desprezado, o Google achou que não valia o esforço de manter o Orkut ativo. Principalmente porque desses seis milhões, apenas uma pequena parcela de usuários se mantém realmente ativa na rede social em questão.
Mas, afinal de contas, quais foram os reais motivos para o Orkut ter uma queda tão expressiva de audiência, a ponto de ser desativado? Enumeramos aqui algumas razões:
A ascensão do Facebook
O Orkut viveu seu auge no Brasil entre 2004 e 2008 e, nessa época, é possível que o Google não tenha achado que a rede social de Mark Zuckerberg seria uma ameaça. Afinal de contas, produtos que se popularizam nos EUA não necessariamente se dão bem em outros países. Na Rússia, por exemplo, a rede social mais popular é a VK (VKontaket). Já na China, o título fica com o QZone. E no Irã, a medalha está com o Cloob. Ainda que nesses dois últimos países essas redes sejam controladas de perto pelo governo, seria razoável achar que o Facebook demoraria a encantar o público brasileiro.
Aposta errada. Em quatro anos, o Facebook conseguiu aparecer de forma exponencial no Brasil. Apenas entre 2010 e 2011, a rede social cresceu 192%, manteve um ritmo acelerado de expansão e finalmente conseguiu a liderança em dezembro de 2011, quando alcançou 36,1 milhões de usuários, contra 34,1 milhões do Orkut. A partir daí, a plataforma do Google foi ladeira abaixo, enquanto o Facebook fez o caminho inverso e hoje domina o cenário nacional, com mais de 61 milhões de adeptos. Ou seja, uma base 10 vezes maior que a do seu antigo maior rival.
O Orkut ficou “made in Brazil” demais
Com o Orkut predominando apenas no Brasil e na Índia, a marca acabou ganhando um “tempero” estritamente regional, o que acabou não ajudando a segurar ou conquistar novos seguidores. O êxodo de usuários de alguns dos principais países do mundo – especialmente os EUA – acabou restringindo anunciantes, publicações, troca de informações e conteúdos, entre outros dados que ajudam a manter a relevância de uma rede social.
Em declaração à revista Carta Capital, Alex Banks, diretor-executivo da comScore, uma das maiores empresas de pesquisa de mundo, afirmou que “é como se as fronteiras transformassem o produto em algo pequeno demais para quem vive no país”. Com o crescimento da classe média brasileira e do turismo internacional, o usuário passa a procurar referências de fora justamente num site com ramificações em vários países. “Com a classe média crescendo e viajando mais para outros países é normal que haja mais interesse do brasileiro em fazer parte de uma rede que permita a ele manter contatos com estrangeiros”, afirmou Banks.
A falta de interatividade
O domínio do Orkut no Brasil – e mundial durante alguns anos – se deu pelo sentido de novidade que a rede social trazia. No Orkut, você podia reencontrar velhos conhecidos, ver o que seus amigos estavam fazendo, bisbilhotar o perfil daquela pessoa que você estava a fim, participar de comunidades, etc. Mas ainda assim, o nível de interatividade era baixo para uma plataforma que queria manter a liderança. Nesse quesito, o Facebook foi muito mais ágil.
A rede social de Zuckerberg sempre permitiu uma melhor interação dentro das publicações, com seus “likes”, compartilhamentos e comentários. O Facebook inseriu o recurso de mensagens em tempo real (o Messenger) antes do Orkut, que só teve algo semelhante com o Gtalk em 2008. O mesmo vale para a funcionalidade das fotos em tela cheia, que só chegou ao Orkut em março de 2011. O feed de notícias, a página de eventos, os grupos de interesses… Tudo no Facebook sempre foi pensado para ter interatividade instantânea desde o início, ao contrário da primeira rede social do Google.
O Google+
Em junho de 2011, o Google anunciou a chegada do Google+, a sua aposta para retomar o domínio das redes sociais. A plataforma chegou baseada no confuso conceito de círculos para publicação de posts, envolta numa interface amigável e com a promessa de integrar todas ferramentas do Google (YouTube, Docs, Drive, etc.) num mesmo local.
Para completar, todos aqueles que possuem uma conta no Gmail automaticamente tinham um perfil no Google+. Em suma, o G+ virou a menina dos olhos da gigante de buscas, e o Orkut foi sendo deixado de lado. O fim das atualizações do blog oficial desta plataforma, em outubro de 2012, era o sinal definitivo que o Google pararia de investir nela de uma vez por todas.
Todo ciclo tem seu fim
Até cinco anos atrás, quem imaginaria que a Kodak deixaria de ser uma das gigantes do mercado de máquinas fotográficas? Ou que Motorola e Nokia se transformariam em coadjuvantes no setor de telefonia celular? Pode demorar mais ou menos, mas no mundo da tecnologia, todo produto ou empresa – outrora inovadores – têm seu ciclo de decadência, para dar espaço a outras marcas e produtos que souberam entender melhor as mudanças do mercado.
No final, os pioneiros podem ser incorporados por outras empresas, como foi o caso da Palm (adquirido pela HP), da Nokia (pela Microsoft) e da Motorola (pela Lenovo). Ou podem também tentar ressurgir, como é o caso do lendário mensageiro ICQ, que ganhou uma versão mobile, e esteve entre os apps mais baixados no iTunes Store no mês de julho. E também podem simplesmente “morrer”, mas com as merecidas honras, como é o caso do Orkut.
Descanse em paz, amigo Orkut. E obrigado por tudo.
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