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5 motivos que explicam a decadência do Orkut

Rui Maciel

Rui Maciel

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Bom, como boa parte do Brasil já sabe, o Orkut será desativado no próximo dia 30 de setembro. A rede social criada pelo Google foi a primeira a ter grande popularidade por aqui. Chegamos a ter 40 milhões de usuários, o que correspondeu a mais de 70% dos usuários de internet no país – ou a maior audiência desta plataforma do mundo. E somos até hoje (com a Índia em segundo lugar) o país com mais perfis no Orkut, com cerca de seis milhões de adeptos.

Ainda que esse número não possa ser desprezado, o Google achou que não valia o esforço de manter o Orkut ativo. Principalmente porque desses seis milhões, apenas uma pequena parcela de usuários se mantém realmente ativa na rede social em questão.

5 motivos que explicam a decadência do Orkut

Mas, afinal de contas, quais foram os reais motivos para o Orkut ter uma queda tão expressiva de audiência, a ponto de ser desativado? Enumeramos aqui algumas razões:

A ascensão do Facebook

O Orkut viveu seu auge no Brasil entre 2004 e 2008 e, nessa época, é possível que o Google não tenha achado que a rede social de Mark Zuckerberg seria uma ameaça. Afinal de contas, produtos que se popularizam nos EUA não necessariamente se dão bem em outros países. Na Rússia, por exemplo, a rede social mais popular é a VK (VKontaket). Já na China, o título fica com o QZone. E no Irã, a medalha está com o Cloob. Ainda que nesses dois últimos países essas redes sejam controladas de perto pelo governo, seria razoável achar que o Facebook demoraria a encantar o público brasileiro.

Página inicial do Facebook

Aposta errada. Em quatro anos, o Facebook conseguiu aparecer de forma exponencial no Brasil. Apenas entre 2010 e 2011, a rede social cresceu 192%, manteve um ritmo acelerado de expansão e finalmente conseguiu a liderança em dezembro de 2011, quando alcançou 36,1 milhões de usuários, contra 34,1 milhões do Orkut. A partir daí, a plataforma do Google foi ladeira abaixo, enquanto o Facebook fez o caminho inverso e hoje domina o cenário nacional, com mais de 61 milhões de adeptos. Ou seja, uma base 10 vezes maior que a do seu antigo maior rival.

O Orkut ficou “made in Brazil” demais

Com o Orkut predominando apenas no Brasil e na Índia, a marca acabou ganhando um “tempero” estritamente regional, o que acabou não ajudando a segurar ou conquistar novos seguidores. O êxodo de usuários de alguns dos principais países do mundo – especialmente os EUA – acabou restringindo anunciantes, publicações, troca de informações e conteúdos, entre outros dados que ajudam a manter a relevância de uma rede social.

Orkut no Brasil

Em declaração à revista Carta Capital, Alex Banks, diretor-executivo da comScore, uma das maiores empresas de pesquisa de mundo, afirmou que “é como se as fronteiras transformassem o produto em algo pequeno demais para quem vive no país”. Com o crescimento da classe média brasileira e do turismo internacional, o usuário passa a procurar referências de fora justamente num site com ramificações em vários países. “Com a classe média crescendo e viajando mais para outros países é normal que haja mais interesse do brasileiro em fazer parte de uma rede que permita a ele manter contatos com estrangeiros”, afirmou Banks.

A falta de interatividade

O domínio do Orkut no Brasil – e mundial durante alguns anos – se deu pelo sentido de novidade que a rede social trazia. No Orkut, você podia reencontrar velhos conhecidos, ver o que seus amigos estavam fazendo, bisbilhotar o perfil daquela pessoa que você estava a fim, participar de comunidades, etc. Mas ainda assim, o nível de interatividade era baixo para uma plataforma que queria manter a liderança. Nesse quesito, o Facebook foi muito mais ágil.

Orkut vs Facebook

A rede social de Zuckerberg sempre permitiu uma melhor interação dentro das publicações, com seus “likes”, compartilhamentos e comentários. O Facebook inseriu o recurso de mensagens em tempo real (o Messenger) antes do Orkut, que só teve algo semelhante com o Gtalk em 2008. O mesmo vale para a funcionalidade das fotos em tela cheia, que só chegou ao Orkut em março de 2011. O feed de notícias, a página de eventos, os grupos de interesses… Tudo no Facebook sempre foi pensado para ter interatividade instantânea desde o início, ao contrário da primeira rede social do Google.

O Google+

Em junho de 2011, o Google anunciou a chegada do Google+, a sua aposta para retomar o domínio das redes sociais. A plataforma chegou baseada no confuso conceito de círculos para publicação de posts, envolta numa interface amigável e com a promessa de integrar todas ferramentas do Google (YouTube, Docs, Drive, etc.) num mesmo local.

Google+

Para completar, todos aqueles que possuem uma conta no Gmail automaticamente tinham um perfil no Google+. Em suma, o G+ virou a menina dos olhos da gigante de buscas, e o Orkut foi sendo deixado de lado. O fim das atualizações do blog oficial desta plataforma, em outubro de 2012, era o sinal definitivo que o Google pararia de investir nela de uma vez por todas.

Todo ciclo tem seu fim

Até cinco anos atrás, quem imaginaria que a Kodak deixaria de ser uma das gigantes do mercado de máquinas fotográficas? Ou que Motorola e Nokia se transformariam em coadjuvantes no setor de telefonia celular? Pode demorar mais ou menos, mas no mundo da tecnologia, todo produto ou empresa – outrora inovadores – têm seu ciclo de decadência, para dar espaço a outras marcas e produtos que souberam entender melhor as mudanças do mercado.

No final, os pioneiros podem ser incorporados por outras empresas, como foi o caso da Palm (adquirido pela HP), da Nokia (pela Microsoft) e da Motorola (pela Lenovo). Ou podem também tentar ressurgir, como é o caso do lendário mensageiro ICQ, que ganhou uma versão mobile, e esteve entre os apps mais baixados no iTunes Store no mês de julho. E também podem simplesmente “morrer”, mas com as merecidas honras, como é o caso do Orkut.

Descanse em paz, amigo Orkut. E obrigado por tudo.

E você concorda com a nossa opinião sobre o fim do Orkut? Escreva em nossa página de comentários ou em nossos canais sociais (Facebook e Twitter).

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